quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre crianças e livros

Tenho até medo de começar esse texto e não terminar nunca mais. Falar da infância e de livros é como descer de bóia um rio de águas calmas. Quem quer parar? Mas vou tentar não cansar os pobres desavisados que chegarem até aqui...
Hoje, Dia Nacional do Livro Infantil, comecei a listar mentalmente os livros que fizeram a cabeça dos meus filhos (uso "fizeram", ao invés de "fazem", pois agora, mesmo o menor, de 09 anos, não lê mais os infantis - só quer dos juvenis pra lá. Mas isso é uma outra conversa...). Nesta busca, foram surgindo os Ziraldos, as Ruths Rochas, as Ana Marias Machados, os Pedros Bandeiras, os Monteiros Lobatos e as Evas Furnaris da vida... Felizmente, posso dizer que os pequeninos daqui de casa já leram mais que muitos marmanjos que já encontrei por aí, até mesmo em classes de jornalismo (eita!).


Mas, como se cultiva o desejo de ler em uma criança? Aqui vão algumas hipóteses de uma não-especialista:


Primeiro: o velho e batido "exemplo". Criança aprende muito por imitação. Ela quer fazer o que os pais, os outros adultos, ou até mesmo as outras crianças fazem. Repete gestos, às vezes sem nem entender o que está fazendo. Nesse ponto, os daqui se deram bem, pois pode faltar tudo na casa, menos a cena de alguém lendo. Lembro que o Pedro, com 1, 2 anos, só queria ir para a cama com um livro na mão, pois a Mel, com 4, 5 anos, só fazia assim.


Segundo: a contação de histórias. Se eles ainda não sabem ler, como vão se apaixonar pelo mundo mágico escondido por trás de signos incompreensíveis? Só se alguém desvendar pra eles, não é? Então, conte muitas histórias pros seus filhos pequenos! Pode inventar, aumentar e modificar o roteiro, mas conte com o livro aberto, nas mãos, para que eles entendam que aquela narrativa fantástica vem daquele objeto tão especial. E, por favor: conte com emoção, interpretando os personagens (também é uma boa terapia anti-estresse para os pais - eu garanto!).


Por fim: o hábito. Há livros de vinil, pros bem pequeninos brincarem na banheira. Há os de pano, pra levar pra cama, como travesseiro macio. Há os de papelão grosso, que aguentam qualquer tranco e não rasgam mesmo nas mãos dos mais agitados. O que quero dizer é que a hora de dar o primeiro livro às crianças é, sim, quando ainda são bebezinhos.


Repito que essas "dicas" vem de uma experiência bem pessoal, mas posso dizer que deram certo pras bandas de cá.


No fundo, no fundo, gostar de livros também sua dose de metafísica inexplicável. Na minha casa, por exemplo, me esforço, me esforço, mas não lembro de meus pais lendo... Lembro do meu avó debruçado sobre os seus velhos livros de medicina que, pobres coitados, ainda recebiam a culpa pelos problemas de vista que ele tinha.


"Ficou assim de tanto ler à luz de lamparina, estudando...", repetia minha avó. Mesmo assim, mesmo sem gostar de ler, sabe-se lá por qual inspiração, meus pais me compravam livros - coleções e mais coleções que, além de servir à minha leitura, enfeitavam as estantes da casa. Além dos infantis, brilhavam as enciclopédias e coleções de clássicos da literatura brasileira e mundial. E assim, fui apresentada a Dostoiévski, Edgar Alan Poe, Machado de Assis e outros das mais diversas estirpes, ainda bem pequena. Bom, tudo tem os seus riscos, não? Aprendi a gostar de ler, mas não escapei de ser maluquinha, maluquinha...


Mas lembro perfeitamente das minhas coleções de criança, dos super clássicos - como Branca de Neve -, aos mais aventureiros, como "As Viagens" de Gulliver ou de Marco Pólo. Lembro dos desenhos (falo sério!) e até de alguns que vinham com um disquinho amarelo - um verdadeiro luxo pro padrão familiar. Mesmo sem o exemplo, tive os livros à disposição e isso fez uma grande diferença. Por isso, defendo que os impostos sobre livros baixem até o quase nada (mas isso também é uma outra história...).


E antes que novas sinapses se formem e eu queira continuar este já longo texto, vou ficando por aqui com uma sugestão aos adultos que por ventura me leiam: leiam hoje um livro infantil. Sempre que cruzo com um aqui nas coisas das crianças e me permito lê-lo, ganho passaporte seguro para alguns instantes de felicidade e magia.

P.S. Esse texto é da Lissandra Leite, do blog www.escrevendoepronto.zip.net

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